Fonte: National Geographic Brasil
Era verão na Antártica, e Erik Gulbranson e John Isbell estavam caçando.
Cobertos com agasalhos de parca para enfrentar temperaturas negativas, ventos ferozes e dias com 24 horas de luz solar, Gulbranson, Isbell e uma equipe internacional de pesquisadores procuravam fragmentos fósseis. Entre novembro de 2016 e janeiro de 2017, eles escalaram as encostas cobertas de neve do promontório McIntyre acima dos campos de gelo e geleiras, procurando indícios nas rochas sedimentares cinzentas nos Montes Transantárticos. No final da expedição, descobriram 13 fragmentos fósseis de árvores que remontam a mais de 260 milhões de anos, bem próximo do maior evento de extinção em massa do mundo.
A descoberta dos fósseis sugere um passado verde e com florestas no continente mais frio e mais seco.
“O continente como um todo era muito mais quente e mais úmido do que é hoje”, diz Gulbranson, professor da Universidade de Wisconsin, em Milwaukee. A paisagem seria densamente preenchida por florestas com uma rede de plantas resistentes de baixa diversidade que poderia resistir a extremos polares, como a floresta boreal na atual Sibéria.
“Curiosamente, esses campos estariam realmente próximos da sua atual latitude”, acrescenta.
Os fósseis preservaram a biologia e a química das árvores antigas, o que ajudará os pesquisadores a investigarem mais sobre esses ecossistemas de alta latitude e descobrir como algumas plantas sobreviveram ao evento de extinção e por que outras não. Além disso, microrganismos fósseis e fungos foram preservados dentro da madeira.
Os espécimes se parecem com as florestas petrificadas no Parque Nacional de Yellowstone, fossilizadas quando materiais vulcânicos enterraram as árvores vivas.
“Elas são realmente algumas das plantas fósseis melhor preservadas do mundo”, diz Gulbranson. “Os fungos na própria madeira foram provavelmente mineralizados e transformados em pedra em questão de semanas, às vezes enquanto a árvore ainda estava viva. Essas coisas aconteceram de forma incrível e rápida. Poderíamos ter testemunhado isso em primeira mão se estivéssemos lá.”
Os pesquisadores descobriram que as plantas pré-históricas poderiam fazer a transição rapidamente entre as estações, talvez no período de um mês. Considerando que as plantas modernas levam meses para fazer a transição e conservam a água de forma diferente dependendo da hora do dia, as árvores antigas poderiam flutuar rapidamente entre os invernos escuros e os verões perpetuamente ensolarados.
“De alguma forma, essas plantas conseguiram sobreviver não apenas quatro a cinco meses de completa escuridão, mas também quatro a cinco meses de luz contínua”, diz Gulbranson. “Nós não entendemos completamente como foram capazes de lidar com essas condições, apenas sabemos que fizeram”.
O período Permiano, entre 299 e 251 milhões de anos atrás, é marcado pelo surgimento do supercontinente Gondwana. Com a mistura dos continentes, os extremos ambientais atormentavam a massa gigante de terra, o que incluía partes da América do Norte moderna, América do Sul, África, Índia, Austrália e a Península Arábica. As calotas polares dominavam a maior parte do sul e sofriam entre verões incessantemente ensolarados e invernos escuros, enquanto o norte sofria de calor intenso e flutuações sazonais.
As criaturas pré-históricas aprenderam a se adaptar ao clima turbulento até a extinção do Permiano – Gulbranson diz que provavelmente foi causada pelo vulcanismo na atual Sibéria. O evento eliminou mais de 90% das espécies marinhas e 70% dos animais terrestres, além de abrir caminho para os dinossauros.
A equipe planeja continuar a pesquisa na Antártica voltando ao continente nas próximas semanas. John Isbell e outros pesquisadores já estãoa caminho, e Gulbranson irá se juntar a eles no território polar em 23 de novembro.
“Ainda é um lugar bruto e desafiador para se estar como um ser humano”, diz Gulbranson.
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