Berlim tem 1000 km de ciclovias e São Paulo, apenas 247 km.  Número de bicicletas na Alemanha supera o de carros e chega a 74 milhões.

A capital da Alemanha tem 1.000 km de ciclovias. São Paulo, por exemplo, com três vezes mais habitantes, tem apenas 247 km. No embalo das bicicletas, o governo alemão anunciou a construção da primeira ciclovia ao lado de uma rodovia. Ao todo, serão 60 quilômetros de extensão para desafogar o tráfego da região mais populosa da Alemanha. Até poderia ser um exagero se não fosse um país onde quase 10% dos deslocamentos diários são feitos na base do pedal. O número de bicicletas chega a 74 milhões e supera o de carros, em torno de 48 milhões.

É muito fácil para qualquer visitante alugar uma bike na maior parte da Alemanha. Em Berlim, é possível até pegar uma bicicleta emprestada de graça para dar uma voltinha. Para isso, é preciso ter acesso à internet e acessar, por exemplo, o site do Bike Surf. O portal solicita alguns dados pessoais, o internauta preenche, e aí aguarda as instruções para ver como poderá pegar essa bicicleta emprestada de alguém que, de boa vontade, vai emprestar a uma outra pessoa. O repórter André Trigueiro decidiu fazer isso para ver o que acontece.

A equipe de reportagem chegou ao endereço informado pelo site. Ali, André Trigueiro pegou a bicicleta emprestada em meio de outras que estavam na porta de um edifício residencial. Uma delas combinou perfeitamente com a descrição do site e, após digitar o segredo do cadeado, foi possível desbloquear a bicicleta. Depois disso, o único compromisso foi devolver a bicicleta intacta no mesmo endereço. O Bike Surf é apenas um dos 400 serviços de compartilhamento gratuito de bicicletas em Berlim.

O criador conta que a procura dobrou este ano.

“Em todo o ano passado, cerca de 400 pessoas usaram o sistema e a média no verão ficou entre 10 e 18 pessoas por semana”, conta Graham Pope, que criou o site. De Berlim, a equipe de reportagem seguiu para Freiburg, na fronteira com a Suíça, para visitar aquele que é considerado o bairro mais ecológico do mundo, com 5 mil moradores, construções sustentáveis e um silêncio que chama a atenção. O nome do bairro é Vauban, que tem uma das menores relações carro por habitante da Alemanha: são 222 veículos para cada 1.000 moradores. Em Berlim, são 324.
Em São Paulo, são 600 para 1.000 habitantes. O senhor Wagner conta que ter bicicleta em Vauban é uma questão de economia. E ainda explica: uma vaga fixa de garagem custa 17,5 mil euros – o que corresponde a mais de 50 mil reais. “É o mesmo preço que pagariam para construir uma casa com uma vaga de garagem na frente. Não tem diferença”, conta Hartmut Wagner, morador da cidade.

Mas as bicicletas não são a única saída. Ainda em Freiburg, é possível conhecer outro tipo de transporte muito eficiente e comum em toda a Alemanha: os bondes elétricos. Eles cruzam a cidade sem ruído ou fumaça, e a pontualidade é motivo de orgulho. A equipe pegou a Linha 2, onde a informação é de que falta apenas um minuto pra chegar o bonde elétrico e checar se esse é o tempo de verdade.

O representante da empresa que opera o sistema diz que o sucesso é resultado de eficiência e, claro, custo baixo. O passe para quatro meses custa o equivalente a 154 reais. Domingos e feriados, leva-se a família inteira com apenas um tíquete. No entanto, ele entrega: tudo isso só é possível porque tem subsídio do governo no meio. “Por exemplo, nós, agora, estamos nessa situação: foram construídas quatro novas linhas com investimento de 130 milhões de euros. 80% do montante vem do estado e os 20% restantes são pagos pela nossa empresa”, explica Andreas Hildebrandt, porta-voz da Freiburg Verkhehrs AG.

Apesar do sucesso das bicicletas e da eficiência do transporte público, não podemos esquecer que a Alemanha concentra algumas das mais importantes montadoras do mundo. Isso fez com que o governo, dentro do plano de tornar o país mais sustentável, fixasse uma meta audaciosa: ter um milhão de carros elétricos até 2020 – um salto e tanto para uma frota que, hoje, não passa de 10 mil unidades, entre elétricos e híbridos. Especialistas avaliam que isso será difícil por causa dos custos altos, da resistência de consumidores e montadoras e da falta de infraestrutura.

Hoje, existem 4 mil estações de recarga e 40% delas são da maior empresa de energia do país. O gerente de marketing da companhia admite que, só com a ajuda do governo, a meta será alcançada. “Se os preços desses carros caírem, talvez seja possível, mas não estamos certos”, explica Christian Uhlich, gerente da RWE.

Para o diretor da Agência Federal do Meio Ambiente, o Ibama alemão, o sucesso da mobilidade urbana depende da combinação de todas as opções de transporte e do uso de menos energia. ”É um mix, pois fazer isso torna o sistema mais eficiente e conecta as diferentes tecnologias de transporte em uma mesma rede. Isso é o que nós estamos fazendo e eu acho que há muitas coisas que nós podemos fazer melhor. Mas estamos em um bom caminho”, analisa Harry Lehmann, diretor do Ibama alemão. Se os alemães estão mesmo o caminho certo, só o tempo dirá. Pedalando ou acelerando, eles sabem onde querem chegar. Quanto mais rápido e com menos poluição, melhor.

Fonte: G1

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