Em matéria publicada no El País, a jornalista Patrícia Gosálvez relata sua experiência

Segue abaixo o relato publicado no portal

“Trinta, eu contei. No meu lavabo, onde coloco tudo o que uso diariamente, estão 30 produtos cosméticos. De líquido para lentes de contato a batom. Desodorante roll-on, antisséptico bucal, protetor solar 50 (sempre!). Colônia infantil e um creme dental rosa com um monstro desenhado. O enésimo antifrizz para cachos que não produz os resultados que promete. Também um creme antirrugas, porque a vida passa rápido. Especialmente hoje que estou tão cansada.

Estou a caminho de uma oficina para fazer xampu caseiro sólido nas dependências de uma associação internacional de voluntários. PROGRAMÃO. Quem ministra é a Econciencia Madrid, uma iniciativa sem fins lucrativos criada por um grupo de amigos na casa dos vinte e poucos anos que dedicam seu tempo livre à sensibilização sobre o consumo excessivo de plásticos (a Comissão Europeia é quem financia). Nessa idade eu me sensibilizava somente nos bares. Não tenho o dia todo para que me deem lições, mas depois de uma semana esgotante na gincana antiplásticos em que me meti, quero ver como se sai um militante da causa.

Sara e Adela Valentín, irmãs veganas, de Madri, não se consideram ativistas. “Afe, é uma palavra muito grande”, bufam. Opinam que ativista é aquele que se coloca em uma lancha entre um barco pesqueiro e uma baleia, ou que arma confusão (elas dizem “ação direta”) na frente de um hipermercado. Para mim parece igualmente heroico dedicarem suas tardes juvenis a conscientizar sobre o planeta em entidades de bairro as poucas pessoas que aparecem porque é grátis.

A oficina tem antes uma parte teórica que ainda bem que pulei porque fico entediada com a ladainha de dados sobre as toneladas de plástico que os humanos geram. Basta olhar meu lavabo para imaginar, essa é a verdade. “É normal, nós traduzimos as toneladas em ‘elefantes’ para que entendam e propomos imagens mais próximas, por exemplo, que alguém fique uma semana sem jogar lixo fora ou um mês sem reciclagem, para que veja a quantidade de resíduos que gera. Isso impressiona mais do que qualquer palestra”, diz Belén Martínez.

Sara tem uma outra imagem para conscientizar: “Imagine que você deixa cair um invólucro em uma calçada. Quando passarem os anos e você tiver morrido, os seus netos poderiam passar por essa mesma rua e o plástico continuaria ali, perfeito”. Como ela diz, vejo meus netos chutando rua acima o antifrizz da vovó, encontrando, enfim, um uso para ele.

A verdade é que a oficina é divertida, aprendo termos como inulina (um polissacarídeo) e hidrolato de camomila, e por fim encaro o famoso tensoativo dos anúncios, que é um pozinho branco muito fino. Fazer xampu sólido é relativamente fácil, embora eu prefira comprá-lo em lojas bonitas com um aroma fenomenal. Mas entendo o motivo de fazê-lo por conta própria. Por prazer e para se rebelar contra o mercado.

Cheguei à oficina pensando que seria julgada por ser uma garota plástica dessas que andam por aí, mas as ativistas não podiam ser mais empáticas com meus esforços da semana. Na verdade, a preconceituosa fui eu, pensando que me esnobariam por meus draminhas ridículos. Estava um pouco complexada, porque já faz um ano e meio que as irmãs Valentín não usam plásticos descartáveis. Nenhum. E se veem tão felizes.

Há quem as chame de loucas ou as critique por isso? Elas negam com a cabeça: “Por ser veganas, porém, [nos criticam] muitíssimo, porque as pessoas se sentem atacadas, consideram que comer animais é natural e ainda por cima lhes dá prazer. Mas o plástico de usar e jogar fora? Esse nem é natural nem dá prazer a ninguém, qualquer um vê que é uma loucura como abusamos dele”. No entanto, continuamos olhando para outro lado.

Entre os oito assistentes da oficina, na maioria jovens, como as garotas que a ministram, há duas senhoras um pouco mais velhas do que eu. Ramona e Ana são funcionárias do Conselho de Educação, a primeira trouxe a segunda, que admite ser “meio preguiçosa para estas coisas” (minha amiga instantânea!). Enquanto fabricam uma sacola de pano para compras com uma camiseta velha (outro tópico da oficina), contam-me que se aliaram ao rapaz que repõe os copinhos da máquina do café de seu escritório. Ele as ensinou a colocar suas xícaras de louça (“nas quais, além do mais, o café é mais saboroso”), e elas deixam os copos de plástico em cima da máquina em sinal de protesto. “Parece que há um botão que faz com que não saia nenhum copo, estamos vendo como conseguir que deixem de repô-los para que as pessoas usem xícaras”, dizem, “porque é uma pena ver como essa lata de lixo fica cheia todos os dias”.

“O problema é que há muitos argumentos para não fazer nada, como dizer que é culpa dos governos, das empresas…”, afirma Belén. Ué, e por acaso não é? Não deveriam proibir coisas como os canudinhos, taxar o plástico, fomentar a redução ou reutilização dos resíduos, em vez de apostar tudo na reciclagem? “Claro, sem dúvida, tudo isso é verdade, mas também é preciso valorizar o poder do consumidor, a pressão que podemos exercer, a força de nossas decisões cotidianas”, diz Belén, com mais razão que um santo. Se o voto é importante, nem é preciso dizer o quanto é importante o que compramos e, principalmente, o que deixamos de comprar. Com esta aventura, não sei se salvei uma baleia, mas o supermercado Express que fica debaixo de onde moro perdeu uma nota.

As senhoras podem levar canecas para o trabalho, e eu posso boicotar por uma semana o Carrefour, mas como fazer para engolir a pílula azul e sair completamente do Matrix plástico? Como diabos é possível viver um ano e meio sem usar nada descartável quando eu quase morro em uma semana? Já tenho a resposta na cabeça, então faço um teste com Sara.

Para a comida? “Sacola de pano, tupperwares, grupos de consumo.”

E fora de casa? “Quase não como fora, mas outro dia na sorveteria pedi que pusessem o sorvete em um tupperware e sempre levo talheres comigo.”

Papel higiênico? “Envolto em papel, eu o jogo na lata de lixo, como se faz em muitos países da Europa. O bidê é melhor, mas não me animo.”

Escova de dentes? “De bambu.”

Na menstruação? “Absorventes de pano que lavo depois.”

Pasta de dente? “Todos os cosméticos, pasta, xampu, cremes, batons, eu mesma faço, assim como os produtos de limpeza.”

Cotonetes?! “Não uso, não é bom para o ouvido.”

Mas deve existir algo de plástico que você use! Diga alguma coisa, Sara, você está me deixando louca! “Mmm… o rímel! Nunca fizemos rímel.”

Pelo visto, não é complicado fabricá-lo em casa. Sara apresenta em seguida vários ingredientes para experimentar fazê-lo logo, mas eu já desisti, porque tenho certeza de que nunca vou cozinhar um rímel. Depois de seis dias de desafio, fui vencida pelo cansaço, e também pelas evidências: poder, é claro que se pode viver sem plásticos de um único uso, e muito mais do que uma semana, só que eu não consegui. Então, para me consolar, invoco minha própria imagem ilustrativa: pense em um velocímetro. À esquerda, no 0 km/h, está o pepino plastificado que estava em minha geladeira quando iniciei este desafio. À direita de tudo, nos 200 km/h, está o rímel caseiro que Sara vai fazer. No meio, todo um intervalo de velocidades, de pequenas decisões, de responsabilidade e culpa. Eu comecei com uma acelerada louca e estou exausta. É provável que freie um pouco. Mas já não voltarei a ficar parada. Porque a corrida é contra o relógio e, como nos filmes, é preciso salvar o mundo”.

Fonte: El País

 

02/12/2019

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