Fonte: Jornal da USP
O Comitê Nobel norueguês atribuiu o Nobel da Paz de 2017 à Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares- Ican (sigla em inglês), por seu trabalho para a eliminação radical do armamento nuclear no mundo, chamando a atenção para as consequências desastrosas para a humanidade e para o meio ambiente do uso das mesmas. A organização também redigiu um Tratado de Proibição de Armas Nucleares e tem feito esforços ingentes para obter a adesão dos Estados para sua ratificação. A ONG insiste ainda para que as potências nucleares iniciem “negociações sérias” destinadas à eliminação gradual, equilibrada, cuidadosa e supervisionada das suas quase 15.000 armas nucleares existentes no mundo. As cinco nações nucleares fizeram questão de boicotar o evento.
A escolha da Ican surge numa conjuntura internacional em que a Coreia do Norte multiplica ensaios nucleares e disparos de mísseis balísticos.
A Ican traduz o reconhecimento do trabalho de todos os ativistas, ao longo dos anos, e lembra sempre os Hibakusha, isto é, os sobreviventes das duas bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão, no final da 2ª Guerra Mundial. Seu maior objetivo é criar um consenso mundial de que a humanidade quer o fim das armas. Sonha para que as poucas potências nucleares se sintam constrangidas por suas populações a mudar de rumo. A organização teve o apoio de personalidades como o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, do Dalai Lama, de astros de Hollywood e do Papa Francisco, entre outros, tornando-se referência mundial. Ela conta com um orçamento de apenas US$ 1 milhão, que provem de governos europeus, particularmente da Suíça, Alemanha e países nórdicos. Enquanto isso, as potências nucleares destinam mais de US$ 100 bilhões por ano para manter seus estoques, soma que poderia ser encaminhada para fins humanitários.
A Ican é uma pequena organização transnacional que teve origem na Austrália. Mudou sua sede para Genebra, onde está num apertado escritório cedido por entidades religiosas e possui apenas três funcionários. Em contrapartida, conta com 468 organizações, espalhadas em mais de 122 países. Trabalha para a adesão e completa implementação do tratado que elaborou, e que não está ainda em vigor, pois depende da ratificação de pelo menos mais 55 Estados, a fim de que o mesmo tenha aprovação nas Nações Unidas e entre em vigor. O Brasil foi o primeiro país a assinar o tratado, em setembro passado, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York.
Suas centenas de ativistas pelo mundo procuram convencer políticos de suas nações que armas nucleares não devem existir.
O representante da organização no Brasil é Cristian Wittmann, gaúcho, que diz: “De nosso ponto de vista não é concebível que alguns países tenham e outros não. Ninguém pode ter armas nucleares”.
A presidente da entidade, Beatrice Fihn, criou a campanha quando o movimento antinuclear era pequeno e disperso. Usou um meio simples, que foi o de propagar a eliminação das armas e procurou mostrar que seu objetivo era viável. Beatrice considera o prêmio um reconhecimento pelo trabalho feito para tornar possível um mundo mais seguro e pacífico. E admitiu que agora o prêmio ajudará e muito a campanha e a conseguir novas adesões. Para a presidente do Comitê norueguês Berit Reiss-Andersen, “vivemos num mundo onde o risco de recurso a armas nucleares é maior do que era desde há muito”.
Esse prêmio poderia ser um estímulo para o Brasil desmontar suas usinas nucleares de Angra dos Reis e com o montante de verbas investir em energia elétrica por meios naturais e limpos: eólica e solar. A fissão nuclear produz grande quantidade de radiação ionizante. Na hipótese, não impossível, de acidentes nucleares, embora se possa desligar a usina com segurança, não se podem evitar os efeitos adversos à vida humana e ao meio ambiente. Basta lembrar que o acidente de Chernobyl matou diretamente 56 pessoas, enquanto outras 4 mil foram atacadas de câncer e expôs 6,6 milhões de pessoas aos riscos da contaminação, destruindo totalmente o meio ambiente.
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