No Brasil, são coletadas diariamente entre 214.868 toneladas diárias de RSU no país de acordo com o Panorama da Associação Brasileira de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE, 2017). Desse total, 59,1% é encaminhado para aterros sanitários e mais de 40% é encaminhado para lixões e aterros controlados que causam poluição e impactos negativos na saúde.
A geração de resíduos orgânicos no país corresponde a mais da metade do montante total e ao contrário dos resíduos recicláveis ganham menos atenção dos setores público e privado. Estamos longe de ter uma coleta seletiva de orgânicos por exemplo como já acontece em alguns países da Europa. Entre outros fatores essa falta de incentivo se da por conta da dificuldade de rentabilizar o processo e a maior burocracia em relação ao produto final (composto).
Existem vários diferentes métodos de tratamento do resíduo orgânico:
– Uso Direto: aplicação direta no solo, alimentação direta de animais e combustão direta.
– Tratamento Biológico: compostagem, verminicompostagem, mosca soldado-negro, digestão anaeróbica e fermentação.
– Tratamento Fisico-quimico: transesterificação e densificação.
– Tratamento termoquímico: pirólise, liquefação e gaseificação.
Entre todos esses métodos a compostagem é apontada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) como uma necessidade não só para tratamento de resíduos mas tambem utilização economica e social do composto produzido. A compostagem é definida pelo Ministério do Meio Ambiente (2013) como processos de tratamento de resíduos em que há a degradação biológica da matéria orgânica putrescível, obtendo-se um produto que pode ser utilizado como adubo. Atualmente, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) as usinas de compostagem representam apenas 4% do destino da fração orgânica de resíduos sólidos gerados no Brasil.
A técnica é comum na agricultura orgânica. É um método mais sustentável, que melhora a qualidade do solo e a produtividade agrícola. No entanto a qualidade, quantidade e composição afetam de forma diferente as propriedades biológicas do solo .
Mesmo sendo uma destinação ambientalmente mais correta do que a disposição no solo, aterramento ou queima a compostagem, pode gerar impactos à saúde dos trabalhadores desse setor, como alterações na função pulmonar e contaminação bacteriológica do sistema respiratório. O processo sem um controle apropriado, pode causar outros problemas: produção de odores, produção de biogás e os organismos patogênicos sobreviverem ao processo.
Existem várias escalas classificadas nos modelos centralizado e descentralizado (que tem a enorme vantagem de não ter deslocamento e consquentemente não emitir poluentes de transporte). O modelo cantralizado envolve uma grande extensão de terra e tratamento em larga escala como Usinas de Triagem e Compostagem e Usinas de Adubo Orgânico. No modelo descentralizado onde a compostagem acontece próxima ao local onde o resíduo orgânico é gerado, temos a compostagem domiciliar, comunitária, institucional e os Pátios de Compostagem Urbana.
Veja como é feita a compostagem institucional do Clube A Hebraica.
No Brasil estimava-se em 1989 que haviam cerca de 80 usinas de compostagem no Brasil que foram sendo desativadas pela falta de incentivo. Até hoje é difícil encontrar dados referentes as usinas de compostagem, quais estão em operação e quais estão desativadas, qual a capacidade de tratamento das que estão operando e qual o destino dado ao produto gerado.
No Estado de São Paulo temos uma maior clareza quanto ao que está sendo tratado e produzido isso se da por conta de estudos acadêmicos realizados por pesquisadores principalmente da USP e o fato de que em a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) centraliza com propriedade as infromações a repeito das usinas em operação. Segundo o Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Domiciliares – IERSD (CETESB, 2003) estima-se que há 14 usinas em operação no Estado de São Paulo.
A cidade de São Paulo tem se destacado nos últimos anos com políticas públicas de tratamento local em Pátios de Compostagem. Desde 2015 a Autoridade de Limpeza Urbana de São Paulo a Amlurb lançou o programa Feiras e Jardins Sustentáveis inaugurando na Lapa o primeiro pátio. Hoje a cidade conta com outros quatro pátios nos bairros da Sé, Mooca, São Mateus e Ermelino Matarazzo.
Apesar de termos um longo caminho até recuperarmos todos os nutrientes presentes nos resíduos orgânicos que desperdiçamos todos os dias em aterros (e infelizmente lixões pelo Brasil, ainda) tudo leva a crer que boa parte da população e poderes público e privado estão se mobilizando para tornar a compostagem como alternativa sustentável.
Por Marina Teles Noguti
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