Pesquisadores britânicos descobriram micropartículas de plástico no intestino de animais que habitam algumas das regiões oceânicas mais profundas da Terra, mostrando que a poluição humana não se limita à superfície dos mares e já atingiu os locais mais inacessíveis do planeta.
A maior parte dos estudos existentes sobre poluição plástica se limita a avaliar áreas de superfície devido aos altos custos da exploração do fundo dos oceanos. As pesquisas demonstraram que a contaminação por plástico é generalizada tanto em peixes quanto em tartarugas, baleias e pássaros marítimos.
Mas uma equipe de pesquisadores da Universidade de Newcastle descobriu casos de ingestão de plástico por pequenos camarões vivendo em seis das regiões oceânicas mais profundas do planeta. O estudo foi publicado no Royal Society Open Science nesta quarta-feira (27/02).
Na Fossa das Marianas, a leste das Filipinas, 100% dos animais estudados tinham fibras de plástico em seu trato digestivo. A Fossa das Marianas é o local mais profundo dos oceanos terrestres, localizada a 11 quilômetros da superfície oceânica.
Entre todos os animais coletados nas seis regiões avaliadas pelos pesquisadores, 72% haviam ingerido ao menos uma micropartícula de plástico. “Parte de mim estava esperando encontrar alguma coisa, mas essa descoberta foi enorme”, disse Alan Jamieson, da Universidade de Newcastle.
A equipe de Jamieson costuma procurar novas espécies nas profundidades do oceano, mas quando percebeu ter acumulado dezenas de unidades de um pequeno tipo de camarão que vive numa faixa entre 6 e 11 quilômetros abaixo da superfície, decidiu procurar evidências de consumo de plástico.
A equipe descobriu que a contaminação nas profundezas dos oceanos é generalizada, tendo atingido tanto a Fossa do Peru-Chile, no sudeste do Pacífico, quanto a Fossa do Japão, que ficam a 15 mil quilômetros uma da outra.
“Está na região do Japão, da Nova Zelândia, do Peru, e cada fossa é extremamente profunda”, disse Jamieson. “(O plástico) é encontrado consistentemente em animais em todas as profundezas extraordinárias do Pacífico, então não vamos perder tempo em concluir: ele está em toda parte.”
Antes do estudo conduzido pela equipe de Jamieson, a localização mais profunda em que partículas de microplástico haviam sido encontradas no estômago de seres vivos foi a 2,2 quilômetros da superfície do Atlântico Norte.
Os microplásticos, que medem entre 0,1 micrômetro e cinco milímetros, confundem os animais marinhos porque têm tamanho semelhante ao de pequenas presas ou partículas de comida, facilitando assim sua entrada na cadeia alimentar. Algumas partículas resultam de processos industriais e são diretamente liberadas nos oceanos por meio de esgotos ou rios. Outras se originam da decomposição de materiais plásticos de maiores dimensões.
Não está claro se as partículas encontradas pelos cientistas da Universidade de Newcastle foram ingeridas por peixes em profundidades mais rasas que morreram e depois afundaram. Os pesquisadores acreditam, contudo, que as fibras de plástico possuem muitos anos de idade. Muitas parecem pertencer a tecidos de roupas, como nylon.
“Mesmo se nem uma única fibra entrasse no mar a partir de agora, tudo que já está no oceano vai afundar em algum momento. Uma vez que esse material entra no oceano profundo, qual seria o mecanismo para trazê-lo de volta?”, perguntou Jamieson. “Estamos empilhando todo o nosso lixo no lugar sobre o qual temos menos conhecimento.”
Cerca de 322 milhões de toneladas de plástico são produzidas anualmente no planeta, enquanto ao menos 5 trilhões de materiais plásticos, com peso equivalente a 250 mil toneladas, estão flutuando nos oceanos.
Fonte: Made For Minds