Fonte: Envolverde
Na procura de iniciativas para reutilizar o lixo eletrônico produzido na cidade de Belo Horizonte, Rafael dos Santos Silva, estudante de Arquitetura e Urbanismo, reciclou por sete meses diversos materiais e os transformou em uma cidade em miniatura.
A ideia surgiu em janeiro. Rafael se questionava constantemente sobre o destino do lixo eletrônico na cidade e cogitou a possiblidade de aproveitar estes materiais em projetos educativos e urbanísticos. “Sempre me interessei por sustentabilidade. Eu estava sentado em casa e vi um dissipador e um pente de memória RAM, fiquei olhando e imaginei um prédio, e foi assim que aconteceu com outras peças de computador espalhadas pela casa. Pensei que seria uma ótima alternativa reciclar e reaproveitar estas peças nas minhas maquetes.” relata o estudante.
Desde então ele visitou muitas lojas de Belo Horizonte à procura de lixo eletrônico. Dissipadores, leitor de DVD, CPU, CDs, processadores, cartuchos, disquetes, modens e placas mãe foram alguns dos itens achados na recolecção.
O estudante comenta que também encontrou lixo eletrônico jogado na rua e pontos de ônibus. “Os aparelhos eletrônicos são feitos de um material nocivo para a saúde, porém a maioria das pessoas descarta isso em qualquer lugar. Nas lojas os vendedores comentaram que muitas pessoas compram lixo eletrônico, mas ninguém sabe o verdadeiro fim” alerta.
Segundo estudo divulgado pela Abetre (Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos e Efluentes), o Estado de Minas Gerais ocupa o terceiro lugar em geradores de resíduo eletrônico com 127,4 mil toneladas anuais, em segundo lugar está o Rio de Janeiro (165,2 mil toneladas) e encabeçando a lista está o estado de São Paulo (448 mil toneladas).
O lixo eletrônico contém elementos químicos altamente nocivos para o ser humano, tais como: chumbo, cobre, mercúrio e cadmio. Estes produzem problemas graves à saúde como intoxicação, malformações no cérebro, anemia, danos ao fígado, rins, testículos, coração, entre outros. Os danos mais comuns são efeitos teratogênicos e cancerígenos.
Com as peças reunidas Rafael iniciou a construção da cidade, 95% feita com lixo eletrônico e material de reciclagem. Ele elaborou 7 maquetes tendo um gasto inferior a 80 reais na compra de material não reciclável.
Projetos inéditos
A iniciativa de Rafael é pioneira no estado de Minas Gerais e no Brasil. O projeto já foi enviado para o RankBrasil e o Guiness Book e aguarda o resultado que pode lhe outorgar o título do “primeiro brasileiro em criar uma cidade com lixo eletrônico”.
Estudante do quinto período no Centro Universitário UNA, a ideia do jovem foi recebida com interesse pela instituição que organizará uma semana profissional com um espaço dedicado para a apresentação do projeto. Com esta iniciativa a faculdade espera que outros estudantes sejam motivados a realizar seus trabalhos de forma sustentável.
No entanto, para Rafael o caminho ainda é longo. Preocupado com a incapacidade de reaproveitar lixo eletrônico na comunidade o jovem quer apresentar seu projeto em escolas e feiras. “Eu vejo tanto lixo eletrônico sem destino, têm lojas que acumularam durante cinco anos sem nenhuma iniciativa da prefeitura. Você percebe que escolas fazem maquetes utilizando caixas de leite, isopor e que existem muitas peças de computador que são jogadas fora. Porque então não aproveitamos disso?” sugere.
Nos próximos meses Rafael levará seu trabalho para instituições educativas na sua cidade, mas afirma que está aberto a apresentações em outros estados. Apesar das orientações de amigos, o estudante desistiu de patentear o projeto. “Não quero ter posse de nada, quero que seja algo em benefício da sociedade e à consciência sustentável”.