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O Brasil na imprensa alemã

Fonte: Deutsche Welle

Frankfurter Allgemeine Zeitung – Alerta vermelho para a democracia, 18/11/2017

O Brasil está se arrastado da pior recessão em gerações. A economia mostra sintomas de recuperação, mas ainda há cerca de 13 milhões de brasileiros desempregados. A inflação está sob controle. Consumidores e investidores voltaram a gastar e investir em empresas brasileiras. Mas não é só a economia brasileira que escorregou por barrancos perigosos desde 2014. Além da crise política, o maior e mais populoso país da América Latina vive também uma crise social há três anos.

Em tempos de crise, meios de comunicação independentes, livres e críticos desempenham papel importante como pilares da democracia. A ONG americana Freedom House define o Brasil como “país livre” em seu índice anual de liberdade internacional. A mídia brasileira, porém, é apenas “parcialmente livre”, segundo a Freedom House.

Num amplo estudo divulgado em São Paulo no início de novembro, a organização Repórteres Sem Fronteiras e a organização brasileira Intervozes mostraram de forma detalhada porque essa definição é acertada. No ranking da liberdade de imprensa da RSF, o Brasil é o 103º entre 180 países. Em comparação, o vizinho Uruguai é o 26º da lista. E a Costa Rica, a “Suíça latino-americana”, ocupa até mesmo a 6ª posição, dez à frente da Alemanha.

A diversificação técnica da paisagem midiática, nomeadamente pela internet, não levou necessariamente a uma diversificação econômica e política. “Com isso, os chamados coronéis controlam não apenas grande parte da economia e da política, mas também têm influência determinante sobre a opinião pública”, diz o relatório da RSF.

Proprietários de veículos de comunicação conduzem fundações ou empresas no setor da educação e do esporte, são ativos nas áreas de finanças, agricultura e imóveis, nos setores energético, de transporte, logística ou até na indústria de aço. Por isso, o RSF emitiu o “alerta vermelho” para o Brasil, porque os perigos para o pluralismo da imprensa são considerados excepcionalmente altos.

A ascensão do bispo Edir Macedo, de 72 anos, da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) mostra de maneira exemplar como, no Brasil, a presença midiática, o poder econômico e a influência política estão estreitamente ligados. Além da expansão agressiva da IURD, Macedo e sua família controlam também o grupo Record, que inclui várias redes de TV, um jornal e um portal de internet.

Em muitos estados brasileiros, a exemplo do Nordeste subdesenvolvido, há dinastias coronelistas que asseguram o controle da paisagem midiática, para além do poder econômico e político. Em tempos de apatia pela democracia e tentações crescentes pelo populismo, essa concentração de dinheiro, poder e influência pode se tornar uma mistura explosiva para um Estado de direito pluralista.

Die Tageszeitung – Turma OK, 18/11/2017

Ao lado do centro do Rio de Janeiro fica o movimentado bairro boêmio da Lapa. São apenas algumas ruas nas quais se bebe, dança e vive à noite. Samba toca ao lado de rock, os bares são inúmeros. A Lapa também é o bairro dos transexuais, há muita oferta de drogas. Mas, para além dos clichês, o bairro também é cenário de histórias como a da Madame Satã, uma drag queen que há 70 anos defendeu os direitos de mendigos, prostitutas e negros.

Mas, longe da rua principal, a Mem de Sá, a vida noturna de um domingo à noite fica restrita até na Lapa. A três quadras dali, impera o silêncio. Apenas o número 39 da Rua dos Inválidos ostenta uma porta aberta. Atrás dela, uma escada íngreme leva ao andar de cima. Nada indica que a “Turma OK” se encontra aqui, aparentemente o mais antigo ainda ativo ponto de encontro de gays e drag queens do mundo.

Por coincidência, a fotógrafa Anja Kessler conheceu a Turma OK. Ela vive no Rio e fotografa o país e as pessoas há muitos anos. Há três, conheceu os senhores, muitos já em idade avançada, que carinhosamente colocam maquiagem e vestem roupas ousadas para se transformarem em divas cantoras.

Kessler começou a fotografar: os lábios vermelhos, as rugas por baixo da maquiagem, o olhar no espelho, a piscada de olhos, a personalidade que se apresenta após a troca de papeis.

Dezenas de vezes, Kessler participou dos shows. Uma seleção das imagens, legendadas com textos do jornalista Wolfgang Kunath, foram publicadas agora no álbum O Clube das Rainhas. Um olhar sobre um dos cantos mais bizarros da Lapa.

A Turma OK tem quase 60 anos. Conhece-se mais fatos do que mitos sobre a fundação do grupo, segundo escreve Kunath no ensaio. Aqueles que participaram da criação já morreram. O dia da fundação é, provavelmente, um de janeiro de 1961. Na época, a audiência só podia estalar os dedos em vez de aplaudir, “já que aplaudir provavelmente teria chamado a atenção dos vizinhos sobre uma reunião suspeita de homens”, diz Kunath.

Para Kunath, é fascinante observar como as pessoas podem se empolgar com o luxo, com o momento efêmero do desperdício e da transformação. Ele diz que “é uma existência carinhosa e um tanto extravagante às margens da cena gay brasileira, que não sabe lidar nem com os senhores com vestidos femininos pomposos, nem com os hits antigos – brasileiros e estrangeiros – que os membros da Turma OK fingem cantar”.

Der Tagesspiegel – Seu suor, nosso sangue – 19/11/2017

Com cabelos desgrenhados e segurando um chocalho, Damiana Cavanha está sentada diante de sua casa. Sua filha está ao seu lado, crianças com narizes sujos de ranho correm nas proximidades. Atrás delas, a passagem de caminhões troveja numa estrada local. Cavanha está bêbada, tomou muita cachaça. “Não aguento mais. Essa vida não tem mais sentido”, diz a senhora de 70 anos. “Tomaram tudo de mim. Quase não tenho mais força, sou velha, mas não posso desistir”.

Há 25 anos, ela tenta voltar ao tekoha de sua família. Esse é o nome dado por índios brasileiros do povo Guarani-Kaiowá à terra de seus antepassados, com a qual sentem uma ligação espiritual muito forte.

47 mil guaranis-kaiowá vivem em Mato Grosso do Sul. É o segundo maior grupo indígena do Brasil – 80% deles vivem em reservas. Ali, dizem os índios, domina a violência, o alcoolismo e a pobreza. São favelas para índios. Agora, muitos deles querem retornar às terras de seus ancestrais – contra a vontade dos donos da terra. Há cerca de 120 dessas ocupações ilegais no Mato Grosso do Sul atualmente.

No estado, continua um drama que é tão antigo quanto o próprio Brasil: colonos brancos e empresas concorrem com os indígenas pela terra e por matérias-primas. A economia brasileira pressiona pela expansão – em muitas partes do país, o conflito ficou mais agudo, a exemplo da Bacia do Amazonas. Mas em nenhum outro lugar ele é tão brutal quanto em Mato Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai.

Os tekohas ficam sobre terras que pertencem a fazendeiros – e esses não cruzam os braços. Mandam pistoleiros para expulsar os Guarani-Kaiowá.

Desde 2004, 400 guaranis-kaiowá foram mortos. A cada ano, um de seus líderes é assassinado. Quase todas as semanas, há confrontos entre índios e fazendeiros. As Nações Unidas descrevem a situação como ‘dramática’, o Parlamento Europeu condenou a violência contra os povos indígenas. Ativistas querem até um boicote a produtos do Mato Grosso do Sul, o que não é realista. Recentemente, a UE ampliou as importações de carne produzida na região e fechou novos acordos para a compra de soja.

Os fazendeiros, por seu lado, também se enxergam como vítimas do conflito. Lúcio Damália fala em 450. Ele é presidente da Associação de Fazendeiros de Dourados, o epicentro da agricultura no estado.

Damália se defende das acusações de que todos os fazendeiros são destruidores de florestas, inimigos dos índios e bandidos. “Nosso suor está dentro dessa terra”, diz ele. “Nós tornamos a terra arável, criamos empregos e alimentamos a população. O que a humanidade vai comer no futuro?”

Mato Grosso do Sul é quase tão grande quanto a Alemanha, mas tem apenas 2,7 milhões de habitantes, dos quais a maioria vive em uma dezena de cidades. Mas 85% da área do estado pertence a fazendeiros.

O significado literal de Mato Grosso do Sul parece estar perdido, já que quase não há mais vegetação. A floresta cedeu lugar às sementes de soja e a 23 milhões de cabeças de gado – assim como cederam os guaranis-kaiowá.

 

srzz

 

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