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Novo estudo mostra desafios para alimentar dez bilhões em 2050

Novo estudo mostra desafios para alimentar dez bilhões em 2050

Se continuarmos usando os bens naturais como estamos usando hoje, em 2050 será muito difícil ter alimento suficiente para as dez bilhões de pessoas que, segundo as últimas estimativas, vão conviver no planeta naquele ano.

Se não mudarmos os métodos de produção e consumo, para ter alimentos necessários em 2050 será preciso que se danifique todas as florestas e campos de produção agrícola, eliminando milhares de espécies de fauna e flora. Esta é uma das muitas conclusões do relatório que a organização World Resource Institute (WRI – organização mundial de pesquisas sobre desenvolvimento) acaba de editar em seu site.

Não existe uma única solução para o problema, segundo o estudo, que se chama “Relatório de Recursos Mundiais: Criando o Futuro de Alimentos Sustentáveis”, mas várias. Uma delas, é claro, é usar os bens naturais com mais eficiência, sobretudo evitando o desperdício de alimentos. Há três lacunas, identificadas pelos estudiosos da agência da ONU para o Meio Ambiente (UN Environment) e para o Desenvolvimento (Pnud), além do Banco Mundial, que se debruçaram sobre dados e apoiaram o WRI para tornar o relatório completo.

Uma dessas lacunas é chamada de “Lacuna da terra”, e se baseia no fato de que será preciso 600 milhões de hectares a mais de expansão agrícola em 2050, tendo como referência 2010. Ou seja, uma área quase duas vezes maior do que a Índia.

É necessário, portanto, que se reduza o crescimento da demanda, diminuindo também a perda de alimentos, o desperdício. E, já que o atual governo aposta que o mundo corporativo será o único alavancador do desenvolvimento no país, é bom que se cobre menos desperdício sobretudo na produção dos alimentos. Mas há que ter uma responsabilidade também dos cidadãos que compram a comida. Dados da agência da ONU para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), mostram que 28% dos alimentos se perdem no processo de produção agrícola e mais 28% são jogados no lixo após chegarem às casas dos consumidores. No mundo, cerca de 1,3 bilhão de toneladas de comida são descartadas por ano.

Outra sugestão dos pesquisadores do relatório é a de se comer menos e uma dieta mais saudável. Isto pode parecer um paradoxo, num mundo que ainda tem 821,6 milhões de pessoas que vão dormir diariamente sem ter consumido o necessário para o seu desenvolvimento. No entanto, faz sentido a sugestão porque mostra que é possível aumentar a produção de alimentos sem precisar expandir tanto o uso de terras. Tem que reduzir o desmatamento, restaurar trufeiras e vincular ganhos de produtividade com a conservação do ecossistema.

Se melhorar a gestão da pesca selvagem, regulando e ordenando mais, a oferta de peixes vai aumentar. E se reduzir as emissões de gases poluentes, o que é possível com o uso adequado de tecnologias na produção, também será possível entender que, no fim e ao cabo, a questão de falta de alimentos no mundo é um falso problema. O que está difícil é, sim, que haja uma distribuição melhor dos alimentos. Como diz Ignacy Sachs, ecossocioeconomista polonês de 92 anos, que já foi conselheiro da ONU e acompanha as Conferências do Clima desde a primeira, de 1972, em Estocolmo, não é falta de alimento, mas é falta de dinheiro para comprá-lo que afeta os famintos no mundo.

Voltando ao relatório, entre as cinco sugestões o que os estudiosos apresentam, é possível identificar uma linha de conduta que perpassa as soluções para o fim da fome no mundo. Trata-se de uma tomada de consciência, não só por parte de quem produz, como também por parte de quem tem mais recursos e pode comprar o que quiser para comer. Uma mudança nos hábitos de consumo pode ajudar bastante. Quantos de nós não jogamos fora alimentos que foram comprados sem que, verdadeiramente, tivéssemos previsão de comê-los? Fazer uma única compra mensal no supermercado pode ser muito bom para evitar trabalho, mas eis aí um hábito que pode ser modificado.

Nesta sexta-feira (19), conversando com uma vizinha, ela me falou sobre mudanças em seus hábitos de consumo. Entre várias novas resoluções – brinquei com ela, dizendo que se pareciam com “resoluções de meio de ano” – ela me confidenciou que, a partir de agora, pretende ir às compras uma vez por semana.

“Assim eu consigo administrar melhor. Compro manteiga só quando acaba, queijo só quando acaba, yogurte idem. E sabe que estou fazendo mais contato com o que gasto também? Já baixei um pouco o investimento em alimentação na nossa planilha porque é possível, desse jeito, também ordenar melhor o consumo aqui em casa. Adolescentes, sabe como são, né? Às vezes vão à geladeira e ficam olhando, buscando uma guloseima qualquer para comer, enquanto o que precisam mesmo é de gastar energia”, disse-me ela.

A vizinha trabalha fora, o marido também, e têm dois jovens em casa. Contou-me que os três ficaram surpresos com os novos hábitos na casa e com uma frase que ela passou a repetir, quase como um mantra: “Vamos descascar mais do que desembrulhar coisas para comer”.

Não é fácil para ninguém. Decerto também há de dar muito trabalho para as grandes corporações perseguirem com lupa os buracos por onde escoam alimentos sem que se deem conta. Lembrei-me de uma visita que fiz à Ceasa, principal Central de Abastecimento que fica em Irajá, zona Norte do Rio, há pouco mais de um ano, e de como fiquei impressionada com a quantidade de produtos que são jogados fora, em imensas caçambas de lixo estrategicamente instaladas entre cada um dos 43 pavilhões.

A cena dos alimentos desperdiçados na Ceasa é triste e fica ainda mais melancólica quando se vê pessoas diariamente catando ali o que vão levar para consumir em casa. Ali é um dos muitos lugares na cidade do Rio de Janeiro onde se pode ver, não só a fome de muitos – sim, no Brasil há quem passa fome – como o enorme passo que se precisa dar para entender que o mundo precisa de mudanças. Não só para poder alimentar a todos em 2050. A urgência é agora.

Fonte: G1

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