Homem destruiu 83% de todos os mamíferos selvagens, revela estudo
05/06/2018
População come e bebe plástico
19/06/2018

Uma volta num ônibus autônomo em Berlim

Uma das grandes promessas do futuro são veículos sem motorista. Diversas empresas investem atualmente no desenvolvimento da tecnologia mundo afora. Todas querem ser a primeira a lançar automóveis inteligentes comercialmente. Vários modelos se encontram em fase de teste, inclusive na Alemanha.

Em Berlim, desde o final de março, pequenos ônibus autônomos estão sendo testados pela empresa pública de transporte coletivo, a BVG. Um dos veículos elétricos percorre um trecho de pouco mais de 1 quilômetro dentro do campus do hospital Charité.

A fase de teste vai até 2020. No primeiro ano, no entanto, um motorista da BVG estará sempre a bordo. Sua função é reagir em situações de risco e identificar falhas do sistema.

Qualquer pessoa pode dar uma volta de graça nos ônibus autônomos nesta fase de teste. Resolvi conferir a novidade. A primeira lição que aprendi foi: não adianta fazer sinal para o veículo caso você esteja esperando no ponto errado. O ônibus amarelo, que parece uma caixa com rodas, está programado para parar e abrir as portas apenas em seus pontos.

Como o veículo anda a cerca de 10 quilômetros por hora, ou menos se houver obstáculos à sua frente – para minha sorte, havia uma bicicleta na dianteira, o que fez com que ele andasse bem devagar –, consegui chegar ao ponto que foi indicado pela operadora da BVG antes do ônibus.

Clarissa NeherA jornalista Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008

Ao parar, o primeiro sinal que a operadora fez foi para não apertar o botão para abrir a porta. Logo que entrei, a simpática funcionária da BVG contou que, diferentemente do que ocorre nos metrôs e trens, no ônibus as portas se abrem sozinhas. Mas para fechar é preciso apertar o botão.

Com as portas fechadas, o ônibus, devagar e silencioso, trafega pelas ruas do campus. Ao identificar riscos de colisão, como carros que cruzam diante dele ou pedestres, ele imediatamente freia. A brecada não é pior do que em um ônibus com motorista.

A operadora contou que o veículo autônomo ainda está em fase de aprendizagem e, por isso, empaca como uma mula quando surgem obstáculos no percurso. Por exemplo, ele ainda não sabe desviar de carros que estacionam invadindo a região programada do que seria seu “trilho digital”.

Nesses casos, para seguir viagem, a operadora precisa assumir o controle da máquina. Perguntei o que ela achava do ônibus autônomo e se tinha algum receio de que com essa tecnologia muitos acabassem perdendo o emprego.

“Esse é o futuro, mas ainda acho que é futuro bem distante e não seremos nós que vamos vivenciá-lo”, respondeu com entusiasmo. “E mesmo sem motorista, serão necessárias pessoas para monitorar esses veículos e verificar se estão funcionando corretamente.” Ela também acha exagero se preocupar com acidentes que poderiam ser causados por esse tipo de veículo, que considera bastante seguro.

Orçado em 4,1 milhões de euros, o projeto piloto conta com quatro ônibus autônomos: dois na Charité e outros dois num complexo hospitalar em Wedding. A iniciativa não é inédita na Alemanha, onde um ônibus autônomo já circular em Bad Birnbach, ligando o centro da cidade a uma terma, mas em Berlim é inédito o fato de a população poder participar dos testes.

O projeto tem feito bastante sucesso. A operadora contou que a linha da Charité é bem procurada. Curiosos que ouviram falar do teste no noticiário são a maioria dos passageiros. Outros vieram visitar pacientes e aproveitaram para conhecer o ônibus autônomo.

Andar em um veículo sem motorista causa certo desconforto pelo fato de estar dentro de uma máquina que, em teoria, não está sob controle de ninguém e pode apresentar falhas a qualquer momento. A viagem foi tranquila e sem incidentes. Porém, o melhor foi o bate-papo sobre Berlim, família e férias com a simpática operadora da BVG, que costuma conduzir bondes em Berlim.

O ônibus no campus da Charité, no centro de Berlim, circula de segunda a sexta das 9h às 16h. A viagem é gratuita.

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *