Fonte: Jornal da USP
Uma pesquisa realizada com 179 moradores do bairro de Vila Medeiros, na região nordeste da cidade de São Paulo, mostrou que 105 dos entrevistados manifestaram oscilação entre mal-estar e bem-estar, conforme o logradouro pelo qual passam, enquanto 38 pessoas declararam sentir frustração e tristeza com a paisagem encontrada nas ruas da região onde moram. Dentre os pesquisados, 57 eram adultos, 62 jovens que cursavam o ensino médio, e outros 60 jovens cursando o ensino fundamental.
Os números da pesquisa acabam de ser publicados em um artigo assinado pelo professor Adilson Citelli e a doutoranda Sandra Pereira Falcão, ambos da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, veiculado na revista Comunicação & Educação. Intitulado o texto Comunicação e Educação: um contributo para pensar a questão ambiental, propõe estratégias educativas com apoio de intervenções próprias da comunicação como “um campo de intervenção social para se compreender a importância da ação comunicativa para o convívio urbano, elaborando e implementando projetos colaborativos de mudanças sociais”.
O artigo teve como base a pesquisa empreendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da ECA entre 2011 e 2013, em que os autores analisaram a conexão comunicação e educação ambiental na construção de sentidos urbanos, abordando “mediações relacionadas a aspectos da comunicação sobre meio ambiente entre moradores, entre estes e e o poder público e vice-versa, bem como focaliza a temática sob o ângulo de servidores públicos atuantes na circunscrição geográfica em que se desenvolvem as investigações de campo (distrito Vila Medeiros, São Paulo, capital ― uma ilha de calor urbana)”.
De acordo com os autores, quando se pensa em criar e manter valores socioambientais, esbarra-se em fatores externos à questão. Segundo o texto do artigo, isso se dá “como um ‘jogo de esconde’ protagonizado pelo poder econômico característico do capitalismo de alto consumo, no qual criam filtros com características mais publicitárias do que propriamente dirigidas à resolução de adversidades que matizam a realidade e a vida social”.
Apesar da declaração de desgaste e desconforto dos moradores, a maioria revela, entretanto, nunca ter acionado o poder público por meio dos canais de comunicação da prefeitura em busca de melhorias socioambientais para seu distrito, como citam os autores.
Essa situação pode mudar com a ajuda da conexão comunicação-educação, já que é um canal para se compreender melhor o tema do meio ambiente. De acordo com o artigo, “é possibilitar questionamento e posicionamento mais direto do cidadão perante os órgãos públicos em relação às agressões ao meio ambiente”.
As cidades precisam criar condições necessárias para garantir aos cidadãos uma nova cidadania ambiental. E esta envolve diretamente a participação do cidadã. Para os professores, esse é o principal obstáculo a ser vencido. No distrito estudado, observou-se uma abordagem conservadora e reducionista na educação ambiental para os jovens. É necessário que a informação ambiental urbana seja capaz de “construir ou restaurar os elos que possibilitem aos moradores refletir e agir sobre ‘desvios’ redutores da qualidade de vida”.
Com essa pesquisa, os docentes querem estimular um debate de maior alcance “voltado à internalização de valores capazes de realimentar a proatividade cidadã no plano socioambiental”, destacando a importância de “desenvolver na universidade e nas comunidades urbanas projetos que permitam resgatar, reorganizar, reconectar e redistribuir saberes a respeito de comunicação ambiental”. A ideia é fornecer subsídios para redimensionar a participação e o empoderamento do cidadão por meio dos multidispositivos comunicacionais.
Adilson Citelli é professor no Departamento de Comunicações e Artes da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.
Sandra Pereira Falcão é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.
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