Fonte: UOL
A start-up de soluções sustentáveis Triciclo é dona da Retorna Machine, máquina que recolhe garrafas PET e latinhas de alumínio para reciclagem e, em troca, dá créditos para serem usados na conta de luz ou no Bilhete Único.
Em menos de um ano, as 17 máquinas espalhadas por São Paulo já coletaram mais de 300 mil embalagens, totalizando cerca de quatro toneladas de garrafas PET e aproximadamente duas toneladas de alumínio. Com isso, mais de R$ 6.000 foram revertidos em bônus nas contas da AES Eletropaulo e na recarga do cartão de transporte público.
As máquinas estão instaladas em estações do metrô (Pinheiros, Faria Lima e Sé), em supermercados e em alguns prédios e estabelecimentos comerciais.
“O negócio funciona como um programa de fidelidade. O usuário se cadastra na própria máquina, no site ou no aplicativo e acumula pontos”, diz o sócio Felipe Lagrotta Nassar Cury, 26.
72 latinhas ou 109 garrafas por uma passagem
Cada garrafa PET (de qualquer tamanho) vale 10 pontos, e cada latinha vale 15. A cada 100 pontos, o usuário ganha R$ 0,35 centavos de crédito no Bilhete Único ou R$ 0,27 na conta de luz. Ou seja, para ganhar o valor correspondente a uma passagem de metrô ou ônibus, que custa R$ 3,80, é necessário acumular cerca de 1.085 pontos, o que dá 72 latinhas ou 109 garrafas PET.
Há um limite diário para o acúmulo de créditos, de até dez embalagens por usuário. “Fizemos isso para evitar que uma única pessoa usasse toda a capacidade da máquina. O que for colocado acima do limite é convertido em crédito para ONGs [organizações não-governamentais]. Assim, damos mais um benefício social.”
Os créditos são bancados pela venda das embalagens usadas para empresas privadas de reciclagem ou cooperativas. O faturamento, que não foi divulgado, vem da venda de ações de marketing para empresas, como o Carrefour e a CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
No caso do Carrefour, a máquina coleta embalagens de desodorante aerossol e dá voucher de 30% de desconto em um desodorante da Unilever. Com a CBF, fizeram uma ação pontual para promover um campeonato nas regiões Norte e Nordeste. A cada três resíduos depositados, a pessoa ganhava um ingresso para as partidas.
Quer coletar outros materiais e crescer
A Retorna Machine pode coletar outros tipos de material, como as embalagens aerossol e até garrafas de vidro. Porém, há o risco de quebrar o vidro, por isso, a empresa está investindo no desenvolvimento de uma solução específica.
A meta é ampliar a presença das máquinas na região metropolitana de São Paulo, antes de ir para outros Estados, e também diversificar os materiais coletados.
“Também podemos coletar embalagens cartonadas, como caixas de leite ou suco. A ideia é instalar compactadores nas máquinas para potencializar a coleta. Não fizemos isso no começo por medo de vandalismo. Se alguém colocasse uma pedra, por exemplo, poderia danificar. Mas não tivemos nenhum caso até agora”, afirma o sócio.
Ele diz que é possível controlar remotamente e em tempo real a capacidade de armazenamento da máquina, o que ajuda a programar as coletas. São recolhidos, em média, oito quilos de material a cada esvaziamento, cerca de 750 unidades de embalagens mistas, segundo Cury.
A frequência da retirada depende do ponto. Na estação da Sé, por exemplo, o ponto de coleta mais movimentado, é feita duas vezes ao dia. Em prédios comerciais, com menor fluxo de pessoas, o material é recolhido a cada três dias.
A primeira máquina foi inaugurada em setembro de 2015. O negócio levou cerca de nove meses para tomar forma e foi inspirado em soluções similares do exterior. “Na Europa e na Ásia, há muito subsídio do governo para isso. Aqui, precisamos adaptar para ser atraente para empresas privadas e para o cliente final”, diz o empresário.
Retorno para o usuário é pequeno
Para Vinck de Bragança, gerente da ABStartups (Associação Brasileira de Start-ups), a proposta de negócio da empresa é boa, porém, ela acredita que deveriam investir mais na educação do público sobre a importância da reciclagem.
“O retorno financeiro é baixo para o usuário. Não é prático carregar recicláveis todos os dias, que são volumosos, para depositar na máquina. O bônus é um pequeno incentivo, o principal ganho é o benefício ambiental, e isso deve ficar claro para as pessoas”, afirma.
Ela também considera o modelo de negócio difícil, pois as empresas que investem em ações de marketing relacionadas à sustentabilidade não são maioria. “Em geral, são empresas que têm verba de marketing grande, ou seja, de companhias de grande porte. Ainda assim, não é a principal utilização dessa verba”, declara.
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