Fonte: Hypeness

Faz um tempo que surgiu, lá no Velho Continente, o chamado “repair cafe” (café de consertos). O movimento criado por mecânicos aposentados e amadores, que insistem em arrumar ao invés de descartar o que quebrou, apareceu na Holanda e migrou para os países vizinhos. A onda bateu, mesmo que tímida, em terras tupiniquins, mais precisamente em São Paulo. E hoje eu vou contar o que aprendi no Café Reparo, realizado no início de outubro na Redbull Station, espaço com foco em projetos experimentais.

Estima-se que existem 1.150 projetos desse tipo em 29 países. Totalmente informal e despretensioso, funciona da seguinte maneira: pegue seu item quebrado, sua boa vontade e siga até o café reparo mais próximo. Simples assim. Em locais geralmente esporádicos, o grupo paulistano não segue agenda, nem regras, apenas o coração. A motivação que eles têm para sair de casa é simplesmente a vontade de elaborar um espaço de troca, genuíno, autêntico, sem frescura e sem taxas de absolutamente nada.

Assim, convidados e coletivos se unem desde 2015 com o objetivo de interromper o ciclo do descarte, e retomar ou dar novos usos a equipamentos existentes, especialmente os que possuem algum valor sentimental. Um objeto conta muitas histórias. Há alguns que não têm nem assistência no Brasil, e nós temos uma relação com esse objetos. E quando você se interessa em abri-lo eu acho que alguma coisa mágica pode acontecer. Queremos oferecer essa experiência educativa, despertar interesse. Nossa companhia aqui é também para garantir o mínimo de segurança às pessoas quando forem mexer”, divagou o sociólogo e idealizador da versão brasileira do Café Reparo, Pedro Belasco.

A frase dita por ele é com total conhecimento de causa. Belasco é também um entusiasta das culturas hacker e maker, além de um curioso de marca maior. “Sempre fui muito interessado na questão do aprendizado e da prática, do domínio da tecnologia. Compreender como algo funciona é uma atitude libertadora. Se você se interessa, começa a mexer e descobrir. E aprende muito desmontando as coisas e vendo como elas funcionam”. Junto a ele estão o técnico em TI e hacker ativista Paulo Jorge Prado, e o técnico em eletrônica, Igor Isaias Banlian, que aos 7 anos não só consertava como também montava pisca pisca com restos que achava no lixo. Precocemente e sem nem saber, já era um promissor difusor da cultura hacker.

No caos de uma mesa de ferramentas, placas mães e soldas, eles se sentam para pacientemente ouvir as demandas de quem vai chegando, com aquela cara de cachorro abandonado, carregando o suposto item quebrado a tiracolo. A variedade é grande, desde celulares até video-games e computadores. Eu levei um fone de celular porque sou recordista em quebrá-los. E estava disposta a entender o que acontece com os benditos, já que, mesmo quando são originais de fábrica, falham da mesma forma.

O motivo? A tal da obsolescência programada. Esse termo é utilizado quando o fabricante do equipamento programa conscientemente a durabilidade de um produto. Episódio típico no sistema capitalista onde somos empurrados no abismo do consumo de forma constante. É bem comum que smartphones comecem a “dar trabalho” depois de aproximadamente 2 anos de uso. Pelo menos os meus começam a falhar miseravelmente. “Isso é feito de forma velada e não de forma explícita, fazendo a gente acreditar que o produto já cumpriu seu ciclo de vida, quando na verdade poderia durar muito mais se não fosse projetado com mecanismos que deem defeitos nele em um determinado período de tempo”, me explicou o Igor.

A ideologia de lutar contra esse sistema foi o que convenceu Igor a se juntar ao projeto. E ele continua o assunto dando exemplos de como as fabricantes nos convencem a criar um ciclo de compras. “As impressoras têm um mecanismo em que o software trava após um tempo para que você leve a esponja coletora de tinta para trocar em uma assistência técnica autorizada. O usuário não tem acesso a isso e as autorizadas muitas vezes cobram um valor próximo ao de um produto novo para fazer um reparo simples. Esse é um exemplo clássico, porque a empresa já espera que você compre uma nova ao fragilizar ou dificultar também a manutenção do que é vendido.

Ou seja, fazer um objeto quebrar pode ser rentável e aquece mercado para as fabricantes. A qualidade do que é comprado cai, mas as vendas se mantém por causa do tempo útil do produto. “O fabricante sabe que as telas de celular vão cair no chão e quebrar. Você poderia ter um equipamento todo modular, onde tudo é trocado facilmente. Mas não, eles fazem tudo soldado, integrado, de forma que se dá problema, é preciso trocar a placa toda e o orçamento é de 90% do valor do produto para desencorajar a pessoa a arrumar”, continuou Igor.

Não há muita escapatória a não ser aprender a arrumá-los, hackear o sistema. Com isso, você também deixa de gerar – ou diminui – o lixo eletrônico, que pode ser extremamente nocivo ao meio ambiente e tem uma coleta muito, muito restrita. A ideia desse projeto é você consertar junto com a gente aqui, aprender. Quase todo aparelho desse tem um padrão de encaixe, algumas travas, coisas simples que você aprende no dia a dia e que podem dar defeito. Aí você não vai abandonar seu aparelho e produzir mais lixo eletrônico”, contou Paulo.

Essa é outra questão importante: o descarte feito de maneira correta. Segundo Igor, se você descarta um aparelho no lugar errado, supondo que vá para um aterro, não está fazendo um favor para a humanidade, muito pelo contrário. “Ele vai acabar oxidando, contaminando o solo com metais pesados. A bateria tem lítio, que é um material tóxico para o meio ambiente. Os leds que iluminam a tela são muito tóxicos e com metais como arsênio, que são muito difíceis de decompor. A reciclagem deles é muito rara porque os componentes são muito integrados. Aqui você tem plásticos, ouro, estanho, prata…para separar tudo isso o custo é muito elevado e a tecnologia desse tipo de reciclagem é muito caro”, pontuou. O técnico em eletrônica indicou que, visto esse cenário caótico, o melhor a ser feito é doar o aparelho eletrônico para quem se interessa em utilizá-lo, sejam faculdades com cursos da área ou assistências técnicas.

No consciente coletivo reside a ideia que nos afasta do controle sobre as nossas próprias coisas. A gente não se atreve a mexer com medo de estragar o que já está estragado. Mas já passou da hora de deixar essa insegurança de lado. Paulo foi quem entrou nesse assunto para responder a minha pergunta. “O medo é a mentalidade usada pelas empresas para que as pessoas não se empoderem. Se mantém o mito de que você poderá estragar ainda mais o produto se tocá-lo e dessa maneira você pode valorizar mais o produto tecnológico. Isso deixa a maioria das pessoas na dependência. Boa parte das coisas, especialmente eletrodomésticos de uso cotidiano, não possuem tecnologia avançadíssima que você não consiga mexer”.

Igor entrou na conversa para dizer que os ventiladores têm a mesma formulação há uns 100 anos, com diferença apenas na qualidade das peças. Ou seja, não há grandes truques que impeçam sua manutenção caseira, a partir do momento em que você já tenha uma ideia do que se trata. E foi exatamente um ventilador, relíquia da família, que fez a gerente de atendimento Luciana Gorab sair de casa naquele sábado. “O meu é da década de 50, era da minha avó. Estava funcionando, mas criou vida própria, precisava de alguns reparos mesmo. Trouxe aqui para me ajudarem e o problema foi super resolvido”.

Para ela, consertar coisas é terapêutico e de vez em quando coloca a mão na massa. No Café Reparo encontrou pessoas interessadas em descobrir o que estava acontecendo com seu objeto de valor sentimental. “Estava há muitos dias procurando na internet quem pudesse dar um jeito, mas não encontrava. O Pedro não sabia o que viria pela frente, mas por boa vontade conseguiu me ajudar”, concluiu.

Luciana acompanhou todo o processo de perto e auxiliou como pode. Foi embora com seu ventilador zero bala!
Já outros casos, eu diria que 80% das pessoas presentes, vinham com seus produtos quebrados e queriam apenas que alguém salvasse suas vidas. Embora o atendimento seja por ordem de chegada, não é bem esse o objetivo. Esse grupo não é uma assistência técnica que arruma as coisas de graça e sim que se reúne para ensinar você a manipular os objetos, descobrir os defeitos e a criar uma conexão com o que tem em mãos para zelar por ele.

Belasco lamenta que em seu bairro, por exemplo, parece impossível reunir um bocado de vizinhos para fazer ações do tipo. Tem lugares em que você tem uma cultura, algumas sociedades são mais amigas de ações comunitárias, de pessoas se juntando independente da filiação partidária, origem, status social…elas se juntam e resolvem coisas. Os mercados de pulga, na Alemanha e Holanda, têm esse espírito. Tem sempre alguém que oferece algum serviço, faz um bolo…e as pessoas se juntam aos finais de semana para fazer o que fazem nas comunidades”.

E aí, vamos virar a chave então e mudar esses hábitos? No combate ao desperdício, é um movimento legítimo de contracultura do qual qualquer pessoa pode fazer parte e se engajar. Você poupa o bolso e o planeta, cria uma rede de apoio e sempre tem a chance de aprender coisas novas. Como garantia, podemos reafirmar que nada é mais libertador do que o conhecimento. Mas, vale lembrar: leve uma garrafa térmica com aquele cafezinho feito com amor, porque aí a experiência fica ainda melhor!

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