Apresentado ao mundo em 1862 e popularizado no século seguinte como um material inovador, o plástico se tornou um dos vilões do planeta. Movimentos engajados em boicotar esse produto encontram em pesquisas recentes, que demonstram os malefícios não só em relação ao meio ambiente, mas também à saúde, os argumentos para impulsionar essa guerra ao material. O principal risco: até os alimentos estão ficando “plastificados”.
Incorporado nos hábitos da sociedade, o plástico está em todo o meio ambiente: no ar, na água e até no peixe e no sal que comemos. Com isso, essa guerra ao material deixou de ser apenas um discurso “ecochato”.
O caminho é o seguinte: a cada minuto, é despejado no mar uma quantidade de plástico equivalente a um caminhão cheio – o que significa 1.440 caminhões em 24 horas e 8 bilhões de quilos por ano como resultado do nosso consumo. Segundo as fundações Ellen McArthur e Sopa de Plástico, se continuarmos com esses hábitos, até 2050, os oceanos terão mais plástico do que peixes.
Considerado indestrutível, o material presente em canudos, cotonetes e copos descartáveis é quebrado em pedaços cada vez menores pela ação dos ventos, das correntes e do sol. Os animais marinhos, por sua vez, confundem os microplásticos com alimentos e ingerem essas partículas tóxicas. E, como a vida marinha está na base da cadeia alimentar global, os malefícios gerados primeiro ao meio ambiente chegam à saúde.
De acordo com a ONU Meio Ambiente, cientistas de Estados Unidos, França, Espanha, Reino Unido e China analisaram amostras de 44 diferentes tipos de sal e encontraram plástico em quase todas elas. Os tipos mais comuns foram microfibras e politereftalato de etileno, o famoso PET. O impacto da ingestão de plástico na saúde humana ainda é desconhecido, já que os pesquisadores não conseguem encontrar um grupo que não tenha sido exposto a ele para comparação.
Um trabalho investigativo da Orb Media revelou a presença de micropartículas de plástico – com menos de 5 mm de diâmetro – em 93% das amostras de água mineral analisadas. Foram pesquisadas 259 unidades de 11 marcas líderes compradas em nove países, incluindo o Brasil. Outra investigação, feita nos Estados Unidos, mostrou que níveis detectáveis de bisfenol A (plástico também conhecido como BPA) foram encontrados na urina de 95% da população. Investigação semelhante produzida no Reino Unido detectou o químico na urina de 86% de 94 jovens testados, de 17 a 19 anos.
Segundo Sarina Occhipinti, médica especialista em clínica médica e nutrologia, o plástico contém, além de bisfenois (A, S e F), que alteram os hormônios, outros produtos tóxicos, como o estireno, altamente cancerígeno. “Estudos demonstram que, após um copo de café em recipiente plástico, o nível de hormônios anômalos pode aumentar absurdamente. Esses disruptores endócrinos se ligam aos receptores celulares como se fossem nossos hormônios, mas agem de forma maléfica, desencadeando uma série de anormalidades funcionais, como puberdade precoce em crianças, infertilidade, cânceres e obesidade”, explica.
Uma revisão científica realizada pela Universidade do Colorado em 2015 revelou que ratos expostos ao bisfenol S e F apresentaram ganho de peso, patologias hepáticas, cânceres e infertilidade.
Diante dessa epidemia química, países e organizações começaram a agir para promover a redução do lixo marinho, que, neste ano, foi alvo da campanha Mares Limpos, da Organização das Nações Unidas (ONU).
No Brasil, a Comissão de Meio Ambiente (CMA) aprovou recentemente o Projeto de Lei do Senado (PLS) 92/2018, que prevê a retirada gradual do plástico da composição de pratos, copos, bandejas e talheres descartáveis. Pelo texto, no prazo de dez anos, o material deverá ser substituído por opções biodegradáveis.
O vizinho Chile tornou-se o primeiro país sul-americano a aprovar a proibição nacional de sacolas plásticas de uso único, recebendo parabéns de todo o mundo em maio deste ano. No Reino Unido, mais de 40 empresas responsáveis por 80% dos produtos e das embalagens plásticas vendidas em supermercados assinaram um pacto, cujos compromissos incluem a conversão de 100% das embalagens em reutilizáveis ou recicláveis.
Responsável por metade do oxigênio que respiramos e por alimentar mais de um terço da população mundial, o oceano pouco a pouco está sendo transformado em um grande lixão. Para tentar salvar essa fonte de vida e resolver um dos maiores problemas ambientais enfrentados pelo planeta, cientistas britânicos aperfeiçoaram, por acaso, uma enzima natural que pode digerir alguns dos plásticos mais poluentes do mundo, o tipo PET, mais comum em garrafas plásticas e que leva centenas de anos para se decompor no meio ambiente. Outro estudo realizado pela Universidade de Stanford descobriu que a pequena larva de besouro conhecida como bicho-da-farinha (Tenebrio molitor), consegue se alimentar de alguns tipos de plástico e isopor e digerí-los, transformando-os em fezes normais e não em derivados químicos do plástico.
Fonte: LITZA MATTOS, O Tempo
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