Estudantes sobreviventes do massacre na escola secundária de Parkland, no estado americano da Flórida, onde na semana passada um ex-aluno matou 17 pessoas a tiros, esperam se tornar o rosto do movimento pelo controle de armas.
Em entrevistas às emissoras NBC News e CNN, estudantes anunciaram no domingo (18/02) a realização de uma marcha nacional e um acampamento em Washington para exigir um maior controle no acesso a armas. A marcha está sendo difundida pela internet por meio do movimento Never Again (nunca mais).
Vários estudantes criticaram o presidente dos EUA, Donald Trump, cuja eleição foi fortemente apoiada pela Associação Nacional do Rifle (NRA), que capitaneia o lobby armamentista, e teve uma plataforma que se opõe ao controle de armas. O direito de posse de arma de fogo é protegido pela Segunda Emenda da Constituição.
Trump passou o fim de semana em sua propriedade no sul da Flórida, apenas a uma hora de carro da Marjory Stoneman Douglas High School. No sábado, um dia depois de ter visitado as vítimas hospitalizadas e agradecido pelo trabalho dos profissionais de saúde e de segurança na resposta ao tiroteio, ele afirmou que a oposição democrata não aprovou uma legislação para aumentar o controle de armas quando Barack Obama liderava o país – e controlava Câmara e Senado – “porque não quis”.
“Como se atreve?”
No Twitter, Trump também acusou o FBI (a polícia federal americana) de estar demasiadamente focado nas investigações no caso da Rússia e de falhar na reação às advertências sobre o (antes potencial) atirador.
“Assim como não querem resolver o problema do Daca programa que protege da deportação os jovens imigrantes indocumentados], por que os democratas não aprovaram uma legislação para aumentar o controle de armas quando tinham tanto a Câmara dos Representantes como o Senado no governo de Obama? Porque não quiseram e agora só falam”, escreveu.
Um dos estudantes da escola da Florida acusou Trump de fomentar uma divisão entre os americanos sobre a questão do controle de venda e posse de armas.
“Você é o presidente. A sua função é manter o país unido e não dividir as pessoas”, disse David Hogg, de 17 anos, ao programa Meet the Press, da NBC. “Como se atreve? As crianças estão morrendo, e o sangue delas está em suas mãos. Por favor, é preciso agir”, acrescentou.
Emma González, estudante sobrevivente do ataque, deu um discurso acalorado num protesto realizado no domingo e mencionou os 30 milhões de dólares em despesas da NRA para a campanha presidencial de Trump.
González citou Trump, o senador da Flórida, Marco Rubio, além do governador do estado, Rick Scott – todos republicanos – num aviso aos políticos apoiados pela NRA.
“Agora é a hora de se colocarem do lado certo, porque isso não é algo que vamos deixar varrer debaixo do tapete”, avisou González.
Sinais de mudança na Flórida
Os políticos da Flórida, entretanto, movimentaram-se numa tentativa de elaborar uma legislação. Em entrevista à televisão americana, o senador Rubio abraçou uma lei democrata na legislatura da Flórida que permitiria que tribunais impedissem temporariamente a aquisição e posse de armas para pessoas determinadas como ameaça a outros e a si próprio.
O governador Scott participou de uma vigília de oração a poucos quarteirões do local do massacre. Espera-se que ele anuncie um pacote legislativo com parlamentares republicanos nesta semana.
Depois de mais de um dia de críticas de alunos, a Casa Branca disse que Trump participará de um encontro com estudantes na quarta-feira e se reunirá na quinta-feira com funcionários estaduais e locais de segurança. A marcha e o início do acampamento em Washington estão agendados para 24 de março.
Na quarta-feira passada, o jovem Nikolas Cruz matou a tiros 14 estudantes e três professores na escola secundária de Parkland com um fuzil de assalto AR-15, além de ferir outras 14 pessoas.
Cruz, um jovem órfão com poucos amigos, obcecado por armas e que se gabava por matar animais, havia sido expulso da escola no ano passado por problemas disciplinares.
Fonte: Deutsche Welle
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