A energia eólica e a energia solar deverão aumentar para quase 50% da geração mundial até 2050 devido à redução drástica de custos e ao advento de baterias mais baratas, o que permitirá que a eletricidade seja armazenada e descarregada para atender a mudanças na demanda e no fornecimento.
Nesta 3ª feira, 19 de junho, a Bloomberg NEF (BNEF), fonte primária de pesquisas sobre energia limpa, publicou sua análise anual de longo prazo do futuro do sistema elétrico global – o New Energy Outlook (NEO) de 2018. O relatório de 150 páginas baseia-se em uma pesquisa detalhada, feita por uma equipe de mais de 65 analistas em todo o mundo, incluindo modelagem sofisticada de sistemas de energia país a país, e a dinâmica de custos em evolução de diferentes tecnologias.
As perspectivas deste ano são as primeiras a destacar o enorme impacto que a queda nos custos das baterias terá no mix de energia nas próximas décadas. Os preços da bateria de lítio-íon, que já caíram cerca de 80% por megawatt-hora desde 2010, continuarão a cair à medida que a produção de veículos elétricos aumente ao longo dos anos 2020.
Segundo Seb Henbest, principal autor do NEO 2018, a estimativa é que US$548 bilhões sejam investidos em baterias até 2050. “A chegada do armazenamento barato de bateria significa que fica cada vez mais possível aprimorar a entrega de eletricidade a partir da energia eólica e solar, para que essas tecnologias possam ajudar a atender a demanda mesmo quando o vento não estiver soprando e o sol não estiver brilhando. Como resultado, as energias renováveis tomarão uma parte cada vez maior do mercado existente de carvão, gás e energia nuclear”, disse.
O NEO 2018 prevê um investimento de US$11,5 trilhões em todo o mundo em nova capacidade de geração de energia entre 2018 e 2050, com US$ 8,4 trilhões deste total em energia eólica e solar, e outros US $1,5 trilhão em outras tecnologias de carbono zero, como hidrelétrica e nuclear.
Esse investimento produzirá um aumento de 17 vezes na capacidade solar fotovoltaica em todo o mundo e um aumento de seis vezes na capacidade de energia eólica.
Elena Giannakopoulou, chefe de economia de energia da BNEF, disse: “O carvão surge como o maior perdedor a longo prazo. Superado pelo custo da energia eólica e fotovoltaica para geração de eletricidade em massa, e baterias e gás pela flexibilidade, o sistema elétrico futuro se reorganizará em torno de energias renováveis baratas – o carvão será pressionado.”
O papel do gás no mix de geração evoluirá, com aumento na construção e utilização de usinas elétricas a gás para proporcionar suporte para as energias renováveis, em vez de produzir a chamada eletricidade de carga base ou contínua (round-the-clock). A BNEF estima que US$ 1,3 trilhão será investido em novas capacidades até 2050, quase a metade em usinas de ‘pico a gás’, em vez de turbinas de ciclo combinado. A geração a gás terá um aumento de 15%, entre 2017 e 2050, embora sua participação na eletricidade global caia de 21% para 15%.
As tendências globais para queima de combustível não serão boas a longo prazo para a indústria do carvão, mas serão moderadamente encorajadoras para o setor de extração de gás. O NEO 2018 estima que a queima de carvão nas usinas cairá 56% entre 2017 e 2050, enquanto a de gás aumentará 14%.
Mudança na matriz do Brasil
O Brasil deve dobrar sua capacidade atual instalada de 157 GW para 316 GW em 2040. Atualmente as fontes de energia de baixo carbono representam 82% da capacidade instalada, e a hidrelétrica, com um total de 102 GW, é de longe a maior contribuinte. Embora a energia hídrica continue sendo uma fonte crítica até 2040, com 111 GW em operação, outras tecnologias assumem a liderança em termos de novas adições: a energia solar com 117 GW de nova capacidade instalada e a eólica com 20 GW. Uma média de 5 GW capacidade de energias renováveis será adicionada por ano até 2040, mais que dobrando a participação das renováveis não-hidrelétricas para quase 50% da capacidade instalada.
A energia solar deixa de ser apenas uma pequena parte da matriz do Brasil e chega em 117 GW até 2040. Isso é impulsionado principalmente pelos painéis fotovoltaicos (PV) de pequena escala, que respondem por 95% do total (111 GW). As baterias e a capacidade flexível, praticamente inexistentes hoje, aumentam para 8% do total em 2040 e 14% em 2050.
Cerca de 89% dos US $ 191 bilhões investidos na geração de energia no Brasil até 2040 vão para as energias renováveis. A principal parte do investimento vai para a energia eólica onshore e PV. A energia eólica onshore chega a US$ 36 bilhões e PV a US $ 118 bilhões, dos quais 96% são destinados a energia fotovoltaica de pequena escala. A maior parte do investimento fotovoltaico de larga escala será realizado antes de 2025. PV em pequena escala deve dominar as perspectivas de investimento de meados dos anos 2020 até 2040, quando US$ 97 bilhões de investimento proveniente de residências e empresas ajudam a instalar mais de 99 GW de capacidade em todo o País.
Emissões globais de carbono
A perspectiva de queda para o carvão em todo o mundo significa que o NEO 2018 oferece uma projeção mais otimista para as emissões de carbono do que o relatório equivalente de um ano atrás. A BNEF agora prevê um aumento das emissões globais do setor elétrico de 2% em 2017 para um pico em 2027 e depois uma diminuição de 38% em 2050.
No entanto, isso ainda significaria que a eletricidade não cumpriria sua parte do esforço de manter os níveis globais de CO₂ abaixo de 450 partes por milhão – o nível considerado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática como consistente com a limitação do aumento das temperaturas a menos de dois graus Celsius.
Matthias Kimmel, analista de economia energética da BNEF, comentou: “Mesmo se tivéssemos desativado todas as usinas de carvão do mundo até 2035, o setor de energia ainda estaria acima de uma trajetória segura para o clima, queimando muito gás. Chegar a dois graus requer uma solução de carbono zero para os extremos sazonais, um que não envolva plantas a gás sem tecnologias de captura de CO2.”
O New Energy Outlook da BNEF é respaldado pela economia em evolução de diferentes tecnologias de energia e por projeções de fundamentos de demanda de eletricidade, como população e PIB. Ele pressupõe que as definições de políticas de energia existentes em todo o mundo permaneçam em vigor até o seu vencimento programado e que não haja medidas governamentais adicionais.
Entre os outros destaques do NEO 2018 estão as altas taxas de penetração de energias renováveis em muitos mercados (87% da oferta total de eletricidade na Europa até 2050, e 55% nos EUA, 62% na China e 75% na Índia). Ele também destaca uma mudança para uma maior “descentralização” em alguns países como a Austrália, onde, em meados do século, os consumidores de fotovoltaica e baterias responderão por 43% de toda a capacidade.
O NEO 2018 também analisa o impacto da eletrificação do transporte no consumo de eletricidade. A estimativa é que os carros elétricos e ônibus estarão usando 3.461TWh de eletricidade globalmente em 2050, o equivalente a 9% da demanda total. A previsão é que cerca de metade da tarifação necessária será feita numa base “dinâmica”, aproveitando os momentos em que os preços da eletricidade estão baixos devido à elevada produção de energias renováveis.
Esta análise baseia-se no último Electric Vehicle Outlook da BNEF, publicado em 21 de maio, que previa que os veículos elétricos representariam 28% das vendas globais de carros novos até 2030 e 55% até 2040. Os ônibus elétricos devem dominar seu mercado de forma ainda mais decisiva, alcançando 84% de participação global até 2030.
Fonte: http://pagina22.com.br
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