O papa Francisco pediu “uma mudança no paradigma financeiro” para combater a mudança climática. Seus comentários não poderiam ser mais oportunos: a humanidade está frente a um ponto de virada. Mas em se tratando da economia, se abordarmos a questão de forma sensata e sem maiores delongas, este ponto de virada não precisa ser uma ruptura.
Nos últimos 70 anos, o mundo teve avanços notáveis e sem precedentes: aumento na expectativa de vida média de cerca de 40 anos para cerca de 70 anos, elevação de aproximadamente quatro vezes na renda per capita e um enorme declínio no número de pessoas em condições de pobreza absoluta. Como consequência, a população global quase triplicou.
Mas, ao mesmo tempo, observamos mudanças fundamentais em nosso capital natural, na atmosfera, oceanos, florestas, geleiras, rios e biodiversidade. Em 142 países tropicais, a área total de florestas naturais diminuiu 11% entre 1990 e 2015. Os oceanos registraram um aumento de 30% na acidez desde o início da Revolução Industrial.
A ciência é clara: devemos reduzir as emissões de carbono em pelo menos 30% nas próximas duas décadas para evitar níveis perigosos de aquecimento do planeta. Se continuarmos emitindo gases de efeito estufa nas taxas atuais pelas próximas duas décadas, é provável que superemos em muito um aumento de 3°C na temperatura média superficial global em comparação com o final do século XIX, usado como ponto de referência.
Tal aquecimento pode mudar e reduzir os locais habitáveis, prejudicar gravemente os meios de subsistência, movimentar bilhões de pessoas e levar a conflitos graves e prolongados. Corremos o risco de ter temperaturas consideravelmente mais altas que isso, se não mudarmos a maneira como produzimos e consumimos.
Conseguir reduzir as emissões de carbono, em escala e com urgência, é agora crucial e precisa ser feito nas próximas duas décadas, ao mesmo tempo em que a economia mundial provavelmente dobrará e a infraestrutura mais do que dobrará. O valor econômico desta mudança é convincente. Por exemplo, já é mais barato em muitos países gerar eletricidade a partir de fontes renováveis de energia, como a eólica e a solar, do que a partir da queima de combustíveis fósseis. Desde 2006, os custos dos módulos de energia solar caíram 79% e, desde 2010, os preços das baterias para armazenamento de energia caíram 72%.
Não há competição entre a responsabilidade climática e desenvolvimento econômico. Podemos construir uma nova forma de crescimento e de redução da pobreza que seja limpa, sustentável e inclusiva. O mundo está começando a perceber a atratividade do novo modelo de crescimento, bem como os riscos de mudanças climáticas não gerenciadas. Mas precisamos construir a vontade política e tomar as decisões necessárias rapidamente.
Sua Santidade, o Papa Francisco, está mostrando liderança extraordinária na tentativa de preencher a lacuna entre a obrigação moral e vontade de agir. Ele nos leva a reconhecer a combinação de urgência e oportunidade na crise que agora enfrentamos. Francisco certamente serve como um exemplo notável e crucial para nós que vivemos no mundo secular. Somente combinando liderança política e moral, juntamente com movimentos sociais e economia sólida, as decisões necessárias serão tomadas com a urgência que precisamos.
* Nicholas Stern é professor e presidente do Instituto de Pesquisa Grantham sobre Mudança Climática e Meio Ambiente da London School of Economics, professor do Collège de France e presidente da British Academy.
Para ler mais sobre a Encíclica Laudato Sí e e a relação entre espiritualidade e meio ambiente, acesse esta edição de Página22.
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